Já
no início do século XX, a biblioteca passa a ter um caráter de servir ao
leitor, mais tarde, também de documentar e, nos anos 60, torna-se mediateca de
informação, porém, com público cada vez menor.
Nóbrega
(2002), em artigo sobre livros e bibliotecas, relata que a história destes
mostra que sempre houve uma preocupação do homem com a preservação de seus
conhecimentos, os quais formaram coleções e, conseqüentemente, a necessidade de
organizá-los, além de evidenciar a função de liberação da memória. Porém, neste
mundo de acervos surge a necessidade de seleção: o que deve ser incorporado e o
que deve ser descartado?
A
palavra biblioteca, do grego, biblion
= livro e théke = caixa, armário,
revela o sentido a ela atribuído: um cofre de tesouros. Infelizmente, tais
tesouros são inacessíveis a grande parte da humanidade e a biblioteca é
considerada um templo, local de ritos e segredos ao lado da ordem, técnica e
preservação. Esta visão está impregnada no imaginário social e perdura até
nossos dias.
Não
se tem notícia da primeira biblioteca, mas, na Antiguidade, já havia a noção
destas, as mais conhecidas são as do Egito. Os acervos antigos foram gravados
em blocos de pedras pelos escribas, ditados pelos sábios. A seguir, vieram
tabletes de barro, tabletes de madeira coberta com cera, tabletes gravados a
fogo e, por fim, o rolo feito de couro de animal nos quais os escribas, depois
os monges copiavam e escreviam. O fato que permitiu grandemente o
desenvolvimento da escrita foi a criação da massa de papiro pelos egípcios pela
facilidade e economia do material. Mesmo com a invenção do papel pelos chineses
e tendo sido este trazido à Europa por Marco Pólo, os europeus, por não
acreditar no material, demoraram cento e cinqüenta anos para atingir a era de
Gutenberg.
É
importante citar que os suportes de escrita utilizados como, por exemplo,
placas de marfim, letras e desenhos gravados a ouro, incrustações com jóias,
papiro e, mesmo, o papel, tornavam-nos frágeis demais, necessitando estes de
vigilância contínua.
A
biblioteca da Alexandria continha 700.000 rolos de papiro e neles trabalhavam
filósofos, matemáticos, pesquisadores em geral, vertendo para o grego o
conhecimento de várias culturas e, tornando-se um centro de influência na
cultura da época. Assim, a biblioteca deixa de ser um simples depósito de
livros religiosos e dos inventários dos reis.
No
decorrer do tempo e com a multiplicação dos livros, além da transformação da
ciência, literatura e artes e, principalmente, com a diminuição do
analfabetismo e o surgimento das universidades a biblioteca passa a ser laica,
com caráter leigo e civil. Passa a ter o objetivo de ser um centro de
divulgação de conhecimentos, incorporando novas práticas como a de empréstimos
de livros.
Foi
a invenção dos tipos móveis por Gutenberg a responsável por uma grande
modificação nos suportes de leitura, que ensejou uma democratização do
conhecimento por meio do livro impresso. Porém, desde a invenção da imprensa
até o século XIX, o livro era visto como um objeto natural, não existindo
questionamentos sobre suas especificidades. Já a partir do século XIX, surgem
reflexões sobre o livro e a noção de que ele pode provocar no leitor
experiências únicas e, também, complexas. Em relação à biblioteca o interesse
era de oferecer oportunidades a diferentes públicos, porém sem resolver a
questão de conservação e uso dos estoques, culminando com uma visão de função
educadora, embora as reflexões teóricas atuais pensem nela como espaço social
de discussão e criação.
Nos
anos de 1980 e no início dos anos de 1990 houve, no Brasil, críticas feitas por
muitos educadores sobre o tecnicismo presente na educação e também na
biblioteconomia. Foi esse debate que revelou o caráter político e social das
práticas escolares e das bibliotecas, mostrando o sucateamento das escolas e de
suas bibliotecas quando estas existiam, e promovendo propostas de mudança.
Assim, disto resultou o entendimento de que o trabalho do bibliotecário é de
cunho político, pois não pode ser desvinculado de objetivos sociais e valores
humanos, abalando as bases tecnoburocráticas da biblioteconomia, definindo as
práticas do bibliotecário como conscientizadoras, transformadoras e criadoras.
Dessa forma, os bibliotecários, antes meros executores de decisões
tecnoburocráticas, passaram a dar mais ênfase à dimensão educativa de suas
práticas como, por exemplo, elaborar programas para o desenvolvimento do gosto
pela leitura.
O
tecnicismo presente, ainda hoje, em muitas bibliotecas, deriva-se da
tecnoburocracia, um prolongamento do estado autoritário que impõe certos
valores e crenças como a valorização do método de trabalho em detrimento das
condições e finalidades do trabalho, enfatizando o planejamento e o controle e
a fiscalização por meio de normas rígidas e procedimento padronizado. O que se
espera de um bibliotecário atualmente é que ele conheça o conteúdo dos livros
que têm como também ser um guia intelectual do leitor. O bibliotecário será,
então, um bom leitor, possuirá um repertório amplo de leituras, uma das
condições necessárias para fazer a mediação entre escritores e leitores. A
biblioteca é responsável pela democratização de seus espaços e popularização de
seus acervos.
O
surgimento de novas tecnologias de informação e de suportes de leitura
modificaram as formas tradicionais de leitura e escrita, colocando em pauta
toda a relação da escrita com o espaço social que é praticada até nossos dias,
demandando um reconhecimento destes novos objetos, as modificações ocorridas
como conseqüência de seu estabelecimento e, também, as relações da escola com
tais objetos.
Conforme
Silva (2003):
Numa democracia com
justiça social, espera-se que todos indivíduos sejam devidamente preparados para
a compreensão e o manejo de todas as linguagens que servem para dinamizar ou
fazer circular a cultura.O problema é que num país tão desigual como o Brasil,
aqueles oceanos informacionais da Internet vão sofrendo restrições cada vez
maiores em termos de presença e de utilização concreta na vida das pessoas. (Silva,
2003, p.14)
O
autor preconiza discussões sobre as leituras disponíveis na Internet voltadas
para um projeto de cidadania, isto é, a formação de sujeitos sociais que tenham
condições de satisfazer suas necessidades de informação, participando dos
destinos da sociedade.
A
circulação e produção virtuais desafiam os educadores das novas gerações, pois
embora os textos desse suporte sejam escritos, o são numa tela de computador,
adquirindo assim configurações únicas e várias ações de interatividade
diferentes do texto impresso. Dessa forma, os textos virtuais são lidos na
forma horizontal e o leitor precisa ser seletivo frente às muitas opções da
Internet, caso contrário pode se perder nos labirintos da informação. A
introdução da escrita virtual na sociedade tem ocorrido de forma tão veloz que
a maioria dos professores ficou surpresa com o potencial traduzido pelo uso do
computador e as reações tem sido ou de recusa no uso dessa tecnologia, ou de confusão
frente às inúmeras possibilidades de utilização da máquina.
Silva
(2003) comenta:
... ainda que os
suportes impressos e digitais dos textos sofram alterações profundas em termos
de configuração, nenhum deles chegará a desaparecer, mesmo porque cada qual
dinamiza práticas culturais específicas surgidas de necessidades diferenciadas
nas sociedades do mundo contemporâneo. (Silva, 2003, p.15)
Há,
portanto, necessidade de se estudar as especificidades da leitura e da escrita
virtuais assim como a velocidade na circulação dos textos ao redor do mundo,
superando até barreiras lingüísticas e, além disso, o analfabetismo digital,
plágios de textos, entre outros. Como a Internet surgiu com possibilidade de
subversão dos aparatos do poder, a comunicação é horizontal, livre e democrática.Silva
(2003) conclui:
... talvez resida nisso
a possibilidade maior de instauração de um certo tipo de cultura entre os
homens que, pelas práticas de leitura – aqui tomada como uma atividade
estruturante do pensamento – poderão , de agora em diante, viver mais
intensamente a criatividade e a liberdade.
( Silva, 2003, p. 16)
Segundo
artigo da revista Veja (2006), foi lançado um produto que objetiva atrair
crianças e jovens para a leitura: uma espécie de iPOD dos livros. O aparelho
chamado de Reader pode armazenar em sua memória centenas de livros, apresentando-os
numa tela página por página. Um aspecto importante do aparelho é o de que pode
ampliar partes do texto em até 200%. As ferramentas do mundo da informática,
segundo o mesmo artigo, têm tornado os jovens mais inteligentes, pois proporcionam
um outro tipo de aprendizado: selecionar e processar informações e exercitar a
lógica. Também os blogs da internet
estimulam a escrita, e no mesmo artigo há relato de crianças que aprenderam a
ler para entender os jogos eletrônicos.
JOYCE SANCHOTENE