quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Clarice Lispector


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

2 comentários:

  1. Somente o nome Clarice Lispector já traduz a leitura, sensacional amiga. Berla escolha.
    Boa tarde !
    Abraços forte.

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  2. A energia que Clarice sempre empregou às palavras colide com a ternura de suas mensagens.

    Sempre forte, sempre doce...

    Ótima postagem, Joyce!

    Um beijo em seu coração e muita luz!

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