O Programa Irati de Todos Nós é idealizado por José Maria Grácia de Araújo e vai ao ar pela Najuá AM, todos os sábados, às 14 horas.
IDA AO CINEMA
Quando era miúdo ia muito
ao cinema, todos os domingos as duas
havia uma “matine”
no Cine Theatro Central com aquele relógio
no alto da parede, e nós berrávamos,
batíamos os pés e assobiávamos quando
o ponteiro saltava para as duas e um e
a fita ainda não tinha começado. Depois
quis ser crescido e consegui entrar de “ratão”
num sábado em uma sessão para adultos,
embora ainda não tivesse feito os dezoito.
Nesse filme vi a Rita Hayworth
na tina do banho, depois de o Gary Cooper
a ter salvo de um bando de índios
malucos. Gostaria de tê-la visto
nua, mas não lhe vi mais que
uma faixa do soutien.
No domingo seguinte voltei
à “matine”, e às duas e um
lá estava eu a berrar, a bater os pés
e a assobiar, porque a fita
ainda não tinha começado.
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Projeto do interior do Cine Theatro Central |
O MEU BOA TARDE A TODOS, com muito amor, paz e harmonia dentro de seus lares e de seus corações. No dia de ontem, 05 de novembro, comemorou-se o “DIA DO CINEMA NACIONAL” e eu não poderia deixar passar esta oportunidade para, mais uma vez, enaltecer o nosso pioneirismo no setor cinematográfico brasileiro.
Fiz, em vão, uma apurada pesquisa em sites da Internet, procurando encontrar uma possível relação dos cinemas mais antigos do Brasil. Nada encontrei, além de poucas referências sobre algumas casas cinematográficas, tidas como as mais antigas do nosso país. A não ser, no eixo Rio/São Paulo e em algumas outras capitais do país, existiram algumas poucas dezenas de cinemas que podem ser considerados mais antigos que aqueles que tivemos em nossa, pequena e isolada, Irati da primeira década do século passado (1910/1920).
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Cine Theatro Central 1920/1930 |
Inicialmente o “Cinematografo” da Empresa Santos Ribas & Cia. inaugurado no ano de1914, e que tinha a Rua 15 de Julho como seu endereço de funcionamento. Infelizmente só temos como documentação de sua existência o alvará para o seu funcionamento. Logo a seguir, em 1920, surgia o inesquecível Cine Theatro Central, da família Wasilewski, cuja existência, até hoje, é motivo de muitas matérias jornalísticas, como a que segue:
A última sessão do mais antigo cinema
Artigo de Aramis Millarch, originalmente publicado em 12 de janeiro de 1984.
Inúmeras vezes dedicamos o espaço desta coluna a registrar a resistência do Cine Central, de Irati, como o mais antigo cinema brasileiro nas mãos de um único exibidor, João Wasilewski. Há pouco mais de um ano, com tristeza, registramos o falecimento do velho exibidor, que chegando ao Brasil ainda garoto, se estabeleceu em Irati, onde, a 28 de agosto de 1920, inaugurou o seu cinema.
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Cine Theatro Central – vista interna |
Dia 2 de fevereiro, segunda-feira, aconteceu a sua última sessão! "Tessa, A Gata", que apesar do apelo erótico, atraiu apenas 12 minguados espectadores, o último dos quais a comprar o ingresso - no 747-983-995, na indicação da padronização da Embrafilmes - foi Helio Van Der Neut. O Cine Theatro Central, razão social da empresa que João Wasilewski fundou em sua juventude, resistiu por 63 anos - um recorde considerado o número de casas de exibição que tem cerrado portas nestes últimos 15 anos.
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Fim do sonho – 02.01.1984 |
Alguns meses antes, o Cine-Theatro Rio Azul, também fundado pelo “velho” Wasilewski, havia encerrado suas atividades. O amor pelo cinema, fazia com que seu João mantivesse as sessões, se esforçasse em atrair um público, embora a televisão lhe roubasse cada vez mais os espectadores. Seus herdeiros - o filho Julio, o neto Pedro, o genro Alcides Almeida - não possuem, naturalmente, tal idealismo. Para eles, o Cine Central era apenas uma lembrança e com o inventário dos bens deixados pelo patriarca da família, a grande padaria que João Wasilewski havia construído há muitos anos, vizinha ao cinema - na Rua 15 de Novembro, 436 - já tinha sido arrendada.
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Grande padaria de João Wasilewski |
O prédio em que o Cine Central funcionou por tantos anos possivelmente será negociado com um banco ou um supermercado. Suas velhas máquinas de projeção, suas poltronas, os quadros nos quais tantos cartazes do Primo Araújo anunciaram as programações cinematográficas, serão vendidas por quem fizer a melhor oferta - embora seja difícil conseguir preços razoáveis para este material, tal o número de cinemas que tem fechado.
Em inúmeras reportagens e anotações nesta (e outras) colunas, temos procurado chamar a atenção para o fim dos cinemas, tanto nas grandes cidades como nas pequenas comunidades. Um fato que não é específico do Brasil, mas que apenas aqui se repete após ter acontecido em outros países, especialmente nos Estados Unidos, a partir da década de 50 - quando a televisão se consolidando provocou o esvaziamento em escala dos velhos cinemas e obrigou, nas cidades maiores, a transformação das salas maiores em cinemas geminados, com diversificação de atividades - aproveitando as empresas os espaços amplos dos antigos hall de entradas, em lojas comerciais.
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Hall de entrada transformado em loja comercial |
Alguns dos cinemas brasileiros que antecederam ao nosso “Cinematógrafo” de 1914 e o Cine Theatro Central de 1920, podem ser contados nos dedos. Senão vejamos:
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Início das projeções sonoras no Brasil – 1902 |
O crítico e historiador de cinema Jean-Claude Bernardet em seu livro Historiografia clássica do cinema brasileiro afirma que já em 1902 iniciaram-se as projeções sonoras no Brasil, pelo menos de filmes estrangeiros. Em 1902 o salão-Paris em São Paulo anunciava o “Cine-Phone” com a fita Trabalhando. Não foi um acontecimento isolado. “O Cinematographo Falante e Cinematographo Aperfeiçoado” que a empresa E. Hervet anunciava com algum estardalhaço em 1905, enquanto no ano seguinte a Empresa Candboung anunciará as maravilhas do “Cinematographo Falante”.
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A partir de 1907 muitos cinemas foram instalados |
A partir de 1907 dezenas de salas cinematográficas foram surgindo, principalmente, e São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. 1909 – Cine Royal – São Paulo
1909 – Cine Pathe – Recife
1911 – Cine Thetro Jandaia – Rio de Janeiro
1914 – “Cinematografo” - Irati
1919 – Cine Guarani – Rio de Janeiro
1920 – Cine Theatro Central – Irati
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Cine Central – década de 50 |
Desde as primeiras projeções, os filmes mudos eram sempre acompanhados de música incidental, seja por pianistas ou outros instrumentistas, ou mesmo por pequenos conjuntos ou até orquestras completas. Era o caso do nosso Cine Central. Nos cinemas conhecidos como cantantes, todavia, a relação entre o som e a imagem ganhou outra dimensão, que implicava, mas certamente não se limitava, a intenção de obter sincronismo sonoro.
Os filmes eram mudos e pessoas especialmente contratadas cantavam atrás da tela, longe da vista dos espectadores, às vezes utilizando-se de canudos e funis em uma dublagem ao vivo. No RECIFE também aconteceram muitas inaugurações de espaços fixos para projeção de filmes:
Cine Pathé
O primeiro cinema do Recife foi o Pathé, localizado na Rua Nova (antiga Barão da Vitória), nº 45, inaugurado no dia 27 de julho de 1909.
Possuía 320 cadeiras e um camarote para autoridades e pessoas importantes. Os filmes exibidos pertenciam à Pathé-Frères, fundada por Charles Pathé. As sessões aconteciam no horário das 12h às 16h e das 18h às 22h. A partir de 1910, passou a exibir, além de filmes, alguns flagrantes locais filmados pela própria empresa.
Cine Royal
Menos de quatro meses depois, em outubro de 1909, surgiu um novo cinema na cidade: o Royal. Os dois cinemas passaram a disputar o público recifense. O Royal exibia sete filmes, o Pathé colocava oito na sua programação. O Pathé, no entanto, fechou antes de 1920. O Royal teve uma vida de mais de 40 anos. Fechou suas portas no dia 1º de julho de 1954.
O Royal foi um dos mais tradicionais cinemas da cidade do Recife, sendo considerado o templo sagrado do cinema pernambucano, na década de 1920. O cinema era todo enfeitado com bandeirolas, folhas de canela no chão e patrocinava a exibição de bandas de música para o seu público.
Cine Helvética
No dia 26 de junho de 1910, foi inaugurado na Rua da Imperatriz, nº 59, o teatro e cinema Helvética. Possuía uma orquestra regida pelo maestro Dinis e servia sorvetes e refrescos em mesas colocadas no jardim, ao lado da sala de projeções. Em 1930, o Helvética passou a ser um centro de diversões chamado de Centre Goal.
Cine Polytheama
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Cine Polytheama ou “Polypulgas” - fachada |
O Polytheama, foi inaugurado em 25 de outubro de 1911. Era chamado pelos estudantes da época de “Polypulgas”. Outros cinemas
Nessa época também existia um cinema ao ar livre, o Siri, que projetava anúncios e filmes intercalados, de um sobrado para uma tela. Foi fechado pela Polícia, “a bem da moral”.
A partir de 1913, o Teatro Santa Isabel funcionou também como cinema e era considerado na época o melhor do Recife, era então o que possuía a “projeção mais clara, fixa e nítida” entre os cinemas da cidade.
A primeira sessão ocorreu no dia 14 de junho de 1913, em grande estilo, com a inauguração no Recife, de um novo cinematógrafo, uma aparelho inventado em 1895 pelos irmãos Lumière, capaz de produzir numa tela o movimento, por meio de uma seqüência de fotografias.
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Theatro Santa Isabel – 1913 |
Mesmo sem possuir iluminação elétrica, que só foi instalada três anos depois, era considerado o cinema “mais confortável e higiênico do Brasil”.
Podia-se assistir a uma série de dez filmes, com direito à banda de música no intervalo das exibições, tudo isso por apenas três mil réis, dez vezes menos do que se pagava por um espetáculo de ópera. Em 1915 surgiu o Cine Ideal. Este cinema tinha uma particularidade: possuía 250 assentos de primeira classe e 217 de segunda classe.
Em 1920, o Cene Thetro Central, cuja história já tive a oportunidade de apresentar em meu programa, mas que na faltara outras oportunidades para voltarmos ao assunto.
Mais como foi mesmo o começo de tudo?
Caso alguém pergunte, num futuro distante, qual terá sido o meio de expressão de maior impacto da era moderna, a resposta será quase unânime: o cinematógrafo. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière para fins científicos, o cinema revelou-se peça fundamental do imaginário coletivo do século XIX e subsequentes, seja como fonte de entretenimento ou de divulgação cultural de todos os povos do globo. Desde cedo, o cinematógrafo aportou no Brasil com Affonso Segretto. Segretto, imigrante italiano que filmou cenas do porto do Rio de Janeiro, tornou-se nosso primeiro cineasta em 1898. Um imenso mercado de entretenimento foi montado em torno da capital federal no início do século XX, quando centenas de pequenos filmes foram produzidos e exibidos para platéias urbanas que, em franco crescimento, demandaram lazer e diversão.
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Filme Alô Alô, Carnaval – 1936 |
Nos anos 30, iniciou-se a era do cinema falado. Já então, o pioneiro cinema nacional concorreu com o forte esquema de distribuição norte-americano, numa disputa que se estende até os nossos dias. Dessa época, destacaram-se o mineiro Humberto Mauro, autor de “Ganga Bruta” (1933) - filme que mostrou uma crescente sofisticação da linguagem cinematográfica – e as “chanchadas” (comédias musicais com populares cantores do rádio e atrizes do teatro de revista) do estúdio Cinédia. Filmes como “Alô, Alô Brasil” (1935) e “Alô, Alô Carnaval” (1936) cairam no gosto popular e revelaram mitos do cinema brasileiro, como a cantora Carmen Miranda (símbolo da brejeirice brasileira que, curiosamente, nasceu em Portugal). A criação do estúdio Vera Cruz, no final da década de 40, representou o desejo de diretores que, influenciados pelo requinte das produções estrangeiras, procuravam realizar um tipo de cinema mais sofisticado. Mesmo que o estúdio tenha falido já em 1954, conhecedeu momentos de glória, quando o filme “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto, ganhou o prêmio de “melhor filme de aventura” no Festival de Cannes.
Bem, meus amigos e ouvintes, já fui bastante longe com o assunto deste programa e como o tempo do programa é limitado em trinta minutos, tenho de parar por aqui. Espero poder marcar uma segunda sessão para poder voltar a este maravilhoso assunto e contar um pouquinho mais da história do cinema em Irati. Até lá.
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