sábado, 31 de dezembro de 2011
RECEITA DE ANO NOVO
RECEITA DE ANO NOVO
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
A CASA DE CADA UM
"A CASA DE CADA UM
(texto de Walcyr Carrasco)
Nesta época, gosto de tratar da vida. Dou a roupa que não uso mais. Livros que não pretendo reler. Envio caixas para bibliotecas. Ou abandono um volume em um shopping ou café, com uma mensagem: "Leia e passe para frente!".
Tento avaliar meus atos através de uma perspectiva maior.
Penso na história dos Três Porquinhos. Cada um construiu sua casa. Duas, o Lobo derrubou facilmente. Mas a terceira resistiu porque era sólida. Em minha opinião, contos infantis possuem grande sabedoria, além da história propriamente dita. Gosto desse especialmente.
Imagino que a vida de cada um seja semelhante a uma casa. Frágil ou sólida, depende de como é construída. Muita gente se aproxima de mim e diz: Eu tenho um sonho, quero torná-lo realidade! Estremeço.
Freqüentemente, o sonho é bonito, tanto como uma casa bem pintada. Mas sem alicerces. As paredes racham, a casa cai repentinamente, e a pessoa fica só com entulho. Lamenta-se.
Na minha área profissional, isso é muito comum.
Diariamente sou procurado por alguém que sonha em ser ator ou atriz sem nunca ter estudado ou feito teatro. Como é possível jogar todas as fichas em uma profissão que nem se conhece?
Há quem largue tudo por uma paixão. Um amigo abandonou mulher e filho recém-nascido. A nova paixão durou até a noite na qual, no apartamento do 10º andar, a moça afirmou que podia voar. Deixa de brincadeira, ele respondeu.
Eu sei voar, sim, rebateu ela.
Abriu os braços, pronta para saltar da janela. Ele a segurou. Gritou por socorro. Quase despencaram. Foi viver sozinho com um gato, lembrando-se dos bons tempos da vida doméstica, do filho, da harmonia perdida!
26.12.11 14:30
Algumas pessoas se preocupam só com os alicerces. Dedicam-se à vida material. Quando venta, não têm paredes para se proteger. Outras não colocam portas. Qualquer um entra na vida delas.
Tenho um amigo que não sabe dizer não (a palavra não é tão mágica quanto uma porta blindada). Empresta seu dinheiro e nunca recebe. Namora mulheres problemáticas. Vive cercado de pessoas que sugam suas energias como autênticos vampiros emocionais. Outro dia lhe perguntei: Por que deixa tanta gente ruim se aproximar de você?
Garante que no próximo ano será diferente. Nada mudará enquanto não consertar a casa de sua vida.
São comuns as pessoas que não pensam no telhado. Vivem como se os dias de tempestade jamais chegassem. Quando chove, a casa delas se alaga.
Ao contrário das que só cuidam dos alicerces, não se preocupam com o dia de amanhã.
Certa vez uma amiga conseguiu vender um terreno valioso recebido em herança. Comentei:
Agora você pode comprar um apartamento para morar.
Preferiu alugar uma mansão. Mobiliou. Durante meses morou como uma rainha. Quase um ano depois, já não tinha dinheiro para botar um bife na mesa!
Aproveito as festas de fim de ano para examinar a casa que construí. Alguma parede rachou porque tomei uma atitude contra meus princípios?
Deixei alguma telha quebrada?
Há um assunto pendente me incomodando como uma goteira?
Minha porta tem uma chave para ser bem fechada quando preciso, mas também para ser aberta quando vierem as pessoas que amo?
É um bom momento para decidir o que consertar. Para mudar alguma coisa e tornar a casa mais agradável.
Sou envolvido por um sentimento muito especial.
Ao longo dos anos, cada pessoa constrói sua casa.
O bom é que sempre se pode reformar, arrumar, decorar!
E na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o arquiteto da própria vida.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
TORTURA E GLÓRIA- Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos. Veio a ter um busto
enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os
bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança
devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de algum livrinho,
ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima com paisagem
de Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes. Atrás escrevia com letra bordadíssima
palavras como data natalícia e saudade.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com
barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas,
esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na
minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a
implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa.
Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o,
dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua
casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria
esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave. No dia seguinte fui à
sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa.
Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o
livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí
devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar
pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí:
guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes eram a minha vida inteira,
o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Bom, mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era
tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o
coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu
voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do dia
seguinte ia se repetir com o coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto
o fel não escorresse de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera
para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem
quer me fazer sofrer está precisando que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia:
pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você não veio, de modo que o emprestei a
outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se formando sob os meus
olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a
sua recusa, apareceu sua mãe. Esta devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela
menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa,
entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o
fato de não entender. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme
surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior
para ela não era essa descoberta. Devia ser a descoberta da filha que tinha. Com certo horror
nos espiava: a potência de perversidade de sua filha desconhecida, e a menina em pé à porta,
exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, se refazendo, disse firme e calma para
a filha: você vai emprestar agora mesmo As reinações de Narizinho. E para mim disse tudo o
que eu jamais poderia aspirar ouvir. “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.”
Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse é tudo o que uma
pessoa, pequena ou grande, pode querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho
que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando
bem devagar. Sei que segurava o livro com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito.
Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente,
meu coração estarrecido, pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto
de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei
mais comendo pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abriao
por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina
que era a felicidade. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era
uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em
êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
O p e q u e n o l i v r o d a s g r a n d e s e m o ç ões.
domingo, 18 de dezembro de 2011
LIVROS QUE NÃO SE PODE DEIXAR DE LER
1 - Crime e Castigo,de Dostoiévski
O romance que marca dez entre dez adolescentes.Publicado em 1866, conta a história de Raskolnikof,um sujeito atormentado que decide matar uma mulher, é surpreendido pelo acaso,tem de cometer outro crime e passa a viver torturado pela culpa.Todos os conflitos do ser humano estão sintetizados nos pensamentos dessa figura que se espreita sinistramente por São Petersburgo.Qual o limite da racionalização de um indivíduo?Até onde sua justificativa conceitual pode permitir um comportamento socialmente condenado?Depois deste livro,você nunca mais vai ter uma resposta definitiva para essas dúvidas. |
2 - Dom Quixote,de Miguel de Cervantes O pai de todos os romances.Dom Quixote leu demais as histórias heróicas de cavaleiros que enfrentavam tudo e todos em nome de uma paixão transcendental e decide se tornar um deles.Apanha no livro inteiro.Sempre acompanhado de seu leal e quase sádico Sancho Pança,enfrenta moinhos imaginários em uma Europa que já não existe. Publicado em duas partes,em 1605 e 1615,o livro estabeleceu um padrão de narrativa distanciada,não raro irônica,que todos os grandes romances seguiriam depois.Mas,deturpado de seu sentido original,ainda é visto como uma história de triunfo ou antitriunfo.Não:é uma conversa que está dentro de cada um de nós. |
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
ÉTICA E EDUCAÇÃO
Pedro Goergen, ao analisar as relações entre pós-modernidade, ética e educação, comenta a atual organização da sociedade adaptada às exigências de mercado, em que a escola oferece um produto em que se perde o rosto humano da educação. Este cenário é um cenário de crise, pois como a educação ainda está alicerçada em bases do pensamento moderno(grandes narrativas, centralidade do sujeito, história em permanente progresso) e o pensamento pós-moderno chama a atenção para um mundo em permanente mutação, a realidade deve ser assumida pela prática pedagógica.
O autor acrescenta (2001, p.77) “Um dos temas fulcrais deste embate entre modernidade e pós-modernidade é o da ética. A passagem da fixidez, do caráter totalizante e universal, premissas de épocas anteriores, para o fluir e a mudança, própria da época contemporânea, desestrutura os fundamentos do certo e do errado e desautoriza os julgamentos a respeito do correto agir.”
Desta forma, a sociedade e a escola como parte desta devem ser capazes de, por meio da ação comunicativa (Habermas), substituir os princípios da disciplina e da autoridade pelos da democracia e da solidariedade, pois, de acordo com Freitag, citada por Goergen (2001, p.81), a reorganização da escola é uma questão administrativa.
Assim, a formação do sujeito ético acontece no meio em que vive e cresce e este meio, seguramente, não é só o da escola. Escola e sociedade devem estar extremamente conectadas para uma formação ética de seus alunos no sentido de congregar e solidarizar.
Sanchotene et alli ( 2005)
sábado, 10 de dezembro de 2011
Filmes que todos deveriam ver
Para ver a lista completa, clique aqui. 12 Homens e uma Sentença (12 Angry Men - 1957)
Diretor: Sidney Lumet
Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, E. G. Marshall
8 ½ (8 ½ - 1963)
Diretor: Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimee
Apocalypse Now (Apocalypse Now - 1979)
Diretor: Francis Ford Coppola
Elenco: Marlon Brando, Martin Sheen, Robert Duvall
RolloverWhy You Should See It
A Mavalda (All About Eve - 1950)
Diretor: Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders
Ladrões de Bicicleta (Ladri Di Biciclette - 1948)
Diretor: Vittorio De Sica
Elenco: Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola
Blade Runner - O Caçador de Andróides (Blade Runner - 1982)
Diretor: Ridley Scott
Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young
Casablanca (Casablanca - 1942)
Diretor: Michael Curtiz
Elenco: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid
Cidadão Kane (Citizen Kane - 1941)
Diretor: Orson Welles
Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore
Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing - 1989)
Diretor: Spike Lee
Elenco: Danny Aiello, Ossie Davis, Ruby Dee
E.T - O Extraterrestre (E.T. the Extra-Terrestrial - 1982)
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Dee Wallace Stone, Henry Thomas, Drew Barrymore
O Exorcista (The Exorcist - 1973)
Diretor: William Friedkin
Elenco: Ellen Burstyn, Max von Sydow, Linda Blair
O Poderoso Chefão (The Godfather - 1972)
Diretor: Francis Ford Coppola
Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan
007 Contra Goldfinger (Goldfinger - 1964)
Diretor: Guy Hamilton
Elenco: Sean Connery, Honor Blackman
A Primeira Noite de um Homem (The Graduate - 1967)
Diretor: Mike Nichols
Elenco: Anne Bancroft, Dustin Hoffman, Katharine Ross
Os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Day's Night - 1964)
Diretor: Richard Lester
Elenco: The Beatles
Tubarão (Jaws - 1975)
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss
Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia - 1962)
Diretor: David Lean
Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn
Matrix (The Matrix - 1999)
Diretor: Larry Wachowski, Andy Wachowski
Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss
Tempos Modernos (Modern Times - 1936)
Diretor: Charlie Chaplin
Elenco: Charlie Chaplin, Paulette Goddard
Monty Python e o Cálice Sagrado (Monty Python and the Holy Grail - 1975)
Diretor: Terry Gilliam, Terry Jones
Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin
Nosferatu (Nosferatu - 1922)
Diretor: F.W. Murnau
Elenco: Max Schreck, Gustave Von Wagenheim, Greta Schroeder
Glória Feita de Sangue (Paths of Glory - 1958)
Diretor: Stanley Kubrick
Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou
Psicose (Psycho - 1960)
Diretor: Alfred Hitchcock
Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh
Pulp Fiction - Tempo de Violência (Pulp Fiction - 1994)
Diretor: Quentin Tarantino
Elenco: John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman
Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark - 1981)
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Harrison Ford, Karen Allen, Paul Freeman
A Lista de Schindler (Schindler's List - 1993)
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes
O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs - 1991)
Diretor: Jonathan Demme
Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopkins, Scott Glenn
Cantando na Chuva (Singin' in the Rain - 1952)
Diretor: Stanley Donen, Gene Kelley
Elenco: Gene Kelly, Donald O'Connor, Debbie Reynolds
Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot - 1959)
Diretor: Billy Wilder
Elenco: Marilyn Monroe, Tony Curtis, Jack Lemmon
Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (Star Wars - 1977)
Diretor: George Lucas
Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher
Um Corpo Que Cai (Vertigo - 1958)
Diretor: Alfred Hitchcock
Elenco: James Stewart, Kim Novak
Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin / Les Ailes du Désir, Alemanha/ França -1987)
Diretor: Wim Wenders
Elenco: Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Otto Sander
O Mágico de Oz (The Wizard of Oz - 1939)
Diretor: Victor Fleming
Elenco: Judy Garland, Frank Morgan, Ray Bolger
Mulheres À Beira de um Ataque de Nervos (Mujeres Al Borde de um Ataque de Nervios - 1988)
Diretor: Pedro Almodovar
Elenco: Carmen Maura, Antonio Banderas
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
LEMIINSKI- CATATAU
“Do tamanho de um pinto nascido recentemente, tinha cabeça de ganso um pouco mais pontuda, na parte superior, o bico largo como o do ganso, mas a extremidade da parte superior inclinada para baixo; os olhos eram pequenos, o pescoço, curto. As asas eram pequenas, sitas perto das primeiras penas (estas eram em número de quatro). Não tinha peito; em lugar dele, acharam-se duas pernas das quais a parte superior media três quartos de dedo e a inferior um quarto; cada uma das pernas tinha quatro dedos semelhantes aos da galinha. As duas pernas posteriores, do mesmo tamanho e figura que as anteriores, estavam colocadas de um modo curioso, isto é, a esquerda era natural mas a direita, na sua origem a esquerda, era uma proeminência da esquerda como que voltada para cima, como se houvesse duas pernas esquerdas e uma direita emendada na esquerda, no lugar de sua origem. Não havia, por isso, o uropígio, porquanto não havia intervalo entre essas pernas posteriores; em lugar da cauda, estavam anexos à perna esquerda uns pêlos um tanto longos de cor branca. Os pés eram semelhantes aos da galinha e os dedos dispostos do mesmo modo; cada um, porém, era disposto em ordem inversa, de sorte que a parte inferior se achava na superior e vice-versa; as unhas também eram voltadas para cima. A cabeça, pescoço, ventre, asas, dorso e parte superior das pernas não eram cobertos de penas mas de pêlos pretos de meio dedo de comprimento, um pouco claros debaixo do ventre e garganta; em resumo, um pinto totalmente monstruoso. A parte inferior das pernas e os pés eram de cor fusca e bem assim o bico; as vísceras eram como as da galinha, porém dispostas desordenadamente; o coração era grande, vivia quando nasceu.”
(Marcgravf, História Naturalis; História das Aves, Lib. V, Cap. XV)
LEMINSKI-CATATAU
domingo, 27 de novembro de 2011
Livro influente
Texto extraído da revista Veja
Medo e Delírio em Las Vegas, de Hunter S. ThompsonUm dos responsáveis pela popularização do gênero jornalismo gonzo, Hunter S. Thompson está na lista de autores considerados ícones da literatura jovem. Sempre associado à tríade sexo, drogas e rock’n'roll, o jornalista transformou suas experiências em relatos que marcaram o fim da era hippie e registraram os constantes conflitos entre os conservadores e libertários nos EUA. Em Medo e Delírio em Las Vegas, um repórter e seu advogado cruzam o deserto de Nevada a bordo de um carro conversível, totalmente entorpecidos por substâncias ilícitas. O objetivo do jornalista é cobrir uma corrida de motocicletas em Las Vegas. A obra ganhou uma adaptação para o cinema de nome homônimo, lançada em 1998. No longa, Raoul Duke, o repórter, é interpretado por Johnny Depp, enquanto Benicio Del Toro vive o Dr. Gonzo, o enigmático advogado.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
DO DESEJO
Do Desejo
de Hilda Hilst
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)
* * *
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)
* * *
Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível
E o que eu desejo é luz e imaterial.
Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Conto de Andersen
Fazia um frio terrível. Nevava, e a noite aproximava-se rapidamente. Era o último dia de Dezembro, véspera de Ano Novo.
Apesar do frio intenso e da escuridão, andava pelas ruas uma menina descalça e com a cabeça descoberta.
Ao sair de casa ainda trazia umas chinelas, mas que não lhe serviram de muito. Eram enormes, tão grandes que decerto pertenciam à mãe e a pobre menina tinha-as perdido ao atravessar a rua correndo, para fugir de duas carruagens que rolavam velozmente. Estava agora descalça e tinha os pés roxos de frio. Dentro de um velho avental tinha muitos fósforos e segurava um punhado deles.
Ninguém lhe comprara fósforos durante o dia e nem sequer lhe tinham dado uma esmola. Morta de frio e de fome, arrastava-se pelas ruas. A pobre criança era a imagem da miséria. Caíam-lhe flocos de neve sobre os cabelos louros muito compridos.
As janelas das casas estavam todas iluminadas. Pelas ruas, espalhava-se o cheiro reconfortante de gansos assados, pois era véspera de Ano Novo.
A menina acocorou-se no ângulo formado pelos muros de duas casas. Encolhera as pernas e sentara-se em cima delas, mas continuava a ter frio. Não ousava voltar para casa porque não vendera nem um fósforo e não tinha sequer uma moeda para entregar ao pai. Temia que este lhe desse uma sova. Além disso, em casa fazia quase tanto frio como na rua, porque tinham apenas o telhado para os cobrir. Apesar de terem tapado com palha e trapos todas as frestas, o vento gelado penetrava incessantemente.
Pôs-se a acender todos os fósforos que restavam na caixa, para conservar junto de si a imagem da avozinha. Os fósforos davam uma chama tão clara que parecia dia. Nunca a avó fora tão bela e tão grande como naquela noite.
A bondosa senhora pegou na criança entre os braços e ambas se elevaram no espaço, envolvidas por uma luz extraordinária. Subiram alto, muito alto, até onde deixa de existir o frio, a fome e o medo.
E, quando chegou a madrugada, encontraram a criança estendida no chão, com as faces rosadas e um sorriso nos lábios. Estava morta. Tinha morrido de frio, na última noite daquele ano.
O Sol do dia do Ano Novo ergueu-se sobre o corpo frágil e abandonado na neve. O avental da criança continha ainda alguns fósforos, mas perto do corpo encontrava-se um pacote de caixas vazias. No entanto, ninguém podia supor as esplêndidas coisas que a menina tinha visto, nem sequer a emoção que sentira ao ser levada pela bondosa avozinha, no dia em que o novo ano principiava.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
AULA DE INGLÊS
Aula de Inglês
Rubem Braga
— Is this an elephant?
Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava.
Não tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil.
Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente:
— No, it's not!
Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou:
— Is it a book?
Sorri da pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro a primeira vista no meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas maduras — sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos:
— No, it's not!
Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita — mas só por alguns segundos. Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas.
— Is it a handkerchief?
Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido:
— No, it's not!
Minhas palavras soaram alto, com certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa nos meus arredores pudesse ser um handkerchief.
Ela então voltou a fazer uma pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente ignorante em psicologia feminina, e antes dela abrir a boca eu já tinha a certeza de que se tratava de uma palavra decisiva.
— Is it an ash-tray?
Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de comprimento.
As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas — duas ou três — na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi:
— Yes!
O que sucedeu então foi indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito excitada:
— Very well! Very well!
Sou um homem de natural tímido, e ainda mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho.
Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja,alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria:
-- It's not an ash-tray!
E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado.
Maio, 1945
A crônica acima foi extraída do livro "Um pé de milho", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1964, pág. 33.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
HAIKAI
um flash back
um flash back dentro de um flash back
um flash back dentro de um flash back de
um flash back
um flash back dentro do terceiro flash back
a memória cai dentro da memória
pedraflor na água lisa
tudo cansa (flash back)
menos a lembrança da lembrança da lembrança
da lembrança leminski
um flash back dentro de um flash back
um flash back dentro de um flash back de
um flash back
um flash back dentro do terceiro flash back
a memória cai dentro da memória
pedraflor na água lisa
tudo cansa (flash back)
menos a lembrança da lembrança da lembrança
da lembrança leminski
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
BIBLIOTECAS- UM POUCO DA HISTÓRIA
Já
no início do século XX, a biblioteca passa a ter um caráter de servir ao
leitor, mais tarde, também de documentar e, nos anos 60, torna-se mediateca de
informação, porém, com público cada vez menor.
Nóbrega
(2002), em artigo sobre livros e bibliotecas, relata que a história destes
mostra que sempre houve uma preocupação do homem com a preservação de seus
conhecimentos, os quais formaram coleções e, conseqüentemente, a necessidade de
organizá-los, além de evidenciar a função de liberação da memória. Porém, neste
mundo de acervos surge a necessidade de seleção: o que deve ser incorporado e o
que deve ser descartado?
A
palavra biblioteca, do grego, biblion
= livro e théke = caixa, armário,
revela o sentido a ela atribuído: um cofre de tesouros. Infelizmente, tais
tesouros são inacessíveis a grande parte da humanidade e a biblioteca é
considerada um templo, local de ritos e segredos ao lado da ordem, técnica e
preservação. Esta visão está impregnada no imaginário social e perdura até
nossos dias.
Não
se tem notícia da primeira biblioteca, mas, na Antiguidade, já havia a noção
destas, as mais conhecidas são as do Egito. Os acervos antigos foram gravados
em blocos de pedras pelos escribas, ditados pelos sábios. A seguir, vieram
tabletes de barro, tabletes de madeira coberta com cera, tabletes gravados a
fogo e, por fim, o rolo feito de couro de animal nos quais os escribas, depois
os monges copiavam e escreviam. O fato que permitiu grandemente o
desenvolvimento da escrita foi a criação da massa de papiro pelos egípcios pela
facilidade e economia do material. Mesmo com a invenção do papel pelos chineses
e tendo sido este trazido à Europa por Marco Pólo, os europeus, por não
acreditar no material, demoraram cento e cinqüenta anos para atingir a era de
Gutenberg.
É
importante citar que os suportes de escrita utilizados como, por exemplo,
placas de marfim, letras e desenhos gravados a ouro, incrustações com jóias,
papiro e, mesmo, o papel, tornavam-nos frágeis demais, necessitando estes de
vigilância contínua.
A
biblioteca da Alexandria continha 700.000 rolos de papiro e neles trabalhavam
filósofos, matemáticos, pesquisadores em geral, vertendo para o grego o
conhecimento de várias culturas e, tornando-se um centro de influência na
cultura da época. Assim, a biblioteca deixa de ser um simples depósito de
livros religiosos e dos inventários dos reis.
No
decorrer do tempo e com a multiplicação dos livros, além da transformação da
ciência, literatura e artes e, principalmente, com a diminuição do
analfabetismo e o surgimento das universidades a biblioteca passa a ser laica,
com caráter leigo e civil. Passa a ter o objetivo de ser um centro de
divulgação de conhecimentos, incorporando novas práticas como a de empréstimos
de livros.
Foi
a invenção dos tipos móveis por Gutenberg a responsável por uma grande
modificação nos suportes de leitura, que ensejou uma democratização do
conhecimento por meio do livro impresso. Porém, desde a invenção da imprensa
até o século XIX, o livro era visto como um objeto natural, não existindo
questionamentos sobre suas especificidades. Já a partir do século XIX, surgem
reflexões sobre o livro e a noção de que ele pode provocar no leitor
experiências únicas e, também, complexas. Em relação à biblioteca o interesse
era de oferecer oportunidades a diferentes públicos, porém sem resolver a
questão de conservação e uso dos estoques, culminando com uma visão de função
educadora, embora as reflexões teóricas atuais pensem nela como espaço social
de discussão e criação.
Nos
anos de 1980 e no início dos anos de 1990 houve, no Brasil, críticas feitas por
muitos educadores sobre o tecnicismo presente na educação e também na
biblioteconomia. Foi esse debate que revelou o caráter político e social das
práticas escolares e das bibliotecas, mostrando o sucateamento das escolas e de
suas bibliotecas quando estas existiam, e promovendo propostas de mudança.
Assim, disto resultou o entendimento de que o trabalho do bibliotecário é de
cunho político, pois não pode ser desvinculado de objetivos sociais e valores
humanos, abalando as bases tecnoburocráticas da biblioteconomia, definindo as
práticas do bibliotecário como conscientizadoras, transformadoras e criadoras.
Dessa forma, os bibliotecários, antes meros executores de decisões
tecnoburocráticas, passaram a dar mais ênfase à dimensão educativa de suas
práticas como, por exemplo, elaborar programas para o desenvolvimento do gosto
pela leitura.
O
tecnicismo presente, ainda hoje, em muitas bibliotecas, deriva-se da
tecnoburocracia, um prolongamento do estado autoritário que impõe certos
valores e crenças como a valorização do método de trabalho em detrimento das
condições e finalidades do trabalho, enfatizando o planejamento e o controle e
a fiscalização por meio de normas rígidas e procedimento padronizado. O que se
espera de um bibliotecário atualmente é que ele conheça o conteúdo dos livros
que têm como também ser um guia intelectual do leitor. O bibliotecário será,
então, um bom leitor, possuirá um repertório amplo de leituras, uma das
condições necessárias para fazer a mediação entre escritores e leitores. A
biblioteca é responsável pela democratização de seus espaços e popularização de
seus acervos.
O
surgimento de novas tecnologias de informação e de suportes de leitura
modificaram as formas tradicionais de leitura e escrita, colocando em pauta
toda a relação da escrita com o espaço social que é praticada até nossos dias,
demandando um reconhecimento destes novos objetos, as modificações ocorridas
como conseqüência de seu estabelecimento e, também, as relações da escola com
tais objetos.
Conforme
Silva (2003):
Numa democracia com
justiça social, espera-se que todos indivíduos sejam devidamente preparados para
a compreensão e o manejo de todas as linguagens que servem para dinamizar ou
fazer circular a cultura.O problema é que num país tão desigual como o Brasil,
aqueles oceanos informacionais da Internet vão sofrendo restrições cada vez
maiores em termos de presença e de utilização concreta na vida das pessoas. (Silva,
2003, p.14)
O
autor preconiza discussões sobre as leituras disponíveis na Internet voltadas
para um projeto de cidadania, isto é, a formação de sujeitos sociais que tenham
condições de satisfazer suas necessidades de informação, participando dos
destinos da sociedade.
A
circulação e produção virtuais desafiam os educadores das novas gerações, pois
embora os textos desse suporte sejam escritos, o são numa tela de computador,
adquirindo assim configurações únicas e várias ações de interatividade
diferentes do texto impresso. Dessa forma, os textos virtuais são lidos na
forma horizontal e o leitor precisa ser seletivo frente às muitas opções da
Internet, caso contrário pode se perder nos labirintos da informação. A
introdução da escrita virtual na sociedade tem ocorrido de forma tão veloz que
a maioria dos professores ficou surpresa com o potencial traduzido pelo uso do
computador e as reações tem sido ou de recusa no uso dessa tecnologia, ou de confusão
frente às inúmeras possibilidades de utilização da máquina.
Silva
(2003) comenta:
... ainda que os
suportes impressos e digitais dos textos sofram alterações profundas em termos
de configuração, nenhum deles chegará a desaparecer, mesmo porque cada qual
dinamiza práticas culturais específicas surgidas de necessidades diferenciadas
nas sociedades do mundo contemporâneo. (Silva, 2003, p.15)
Há,
portanto, necessidade de se estudar as especificidades da leitura e da escrita
virtuais assim como a velocidade na circulação dos textos ao redor do mundo,
superando até barreiras lingüísticas e, além disso, o analfabetismo digital,
plágios de textos, entre outros. Como a Internet surgiu com possibilidade de
subversão dos aparatos do poder, a comunicação é horizontal, livre e democrática.Silva
(2003) conclui:
... talvez resida nisso
a possibilidade maior de instauração de um certo tipo de cultura entre os
homens que, pelas práticas de leitura – aqui tomada como uma atividade
estruturante do pensamento – poderão , de agora em diante, viver mais
intensamente a criatividade e a liberdade.
( Silva, 2003, p. 16)
Segundo
artigo da revista Veja (2006), foi lançado um produto que objetiva atrair
crianças e jovens para a leitura: uma espécie de iPOD dos livros. O aparelho
chamado de Reader pode armazenar em sua memória centenas de livros, apresentando-os
numa tela página por página. Um aspecto importante do aparelho é o de que pode
ampliar partes do texto em até 200%. As ferramentas do mundo da informática,
segundo o mesmo artigo, têm tornado os jovens mais inteligentes, pois proporcionam
um outro tipo de aprendizado: selecionar e processar informações e exercitar a
lógica. Também os blogs da internet
estimulam a escrita, e no mesmo artigo há relato de crianças que aprenderam a
ler para entender os jogos eletrônicos.
JOYCE SANCHOTENE
sábado, 1 de outubro de 2011
Prêmio Jabuti-2011- EDUCAÇÃO
Finalistas do prêmio Jabuti-2011- EDUCAÇÃO
Título
Editora
1º
IMPACTOS DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: UM DIÁLOGO COM PROFESSORES
EDITORA FIOCRUZ/ SIMONE GONÇALVES DE ASSIS, PATRÍCIA CONSTANTINO E JOVIANA QUINTES/
2º
LDIGITEXTO / FUNARTE, MINISTÉRIO DA CULTURA/ ISABEL MARIA MEIRELLES DE AZEVEDO/LINGUAGEM DA DANÇA: ARTE E ENSINO
3º
INTERDISCIPLINARIDADE EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO/MANOLE, CAPES, USP, UERJ E UFSC /ARLINDO PHILIPPI JR, ANTÔNIO J. SILVA NETO
4º
COM A PALAVRA, O AUTOR/SARANDI/ FRANCISCO AZEVEDO DE ARRUDA SAMPAIO E ALOMA FERNANDES DE CARVALHO
5º
ENSINO SUPERIOR BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS/E.P.U. EDITORA PEDAGÓGICA E UNIVERSITÁRIA LTDA/ MARCO ANTONIO MOREIRA E ANGELA VEIT
6º
VIOLÊNCIA INDISCIPLINA E EDUCAÇÃO/ EDUEL/ LEONI MARIA PADILHA HENNING / MARIA LUIZA MACEDO ABBUD (ORGS)
7º
EDUCAÇÃO E ALFABETIZACAO CIENTÍFICA/ EDITORA PAPIRUS/PEDRO DEMO
8º
DESENHANDO COM TODOS OS LADOS DO CÉREBRO: POSSIBILIDADES PARA TRANSFORMAÇÃO DAS IMAGENS ESCOLARES/IBPEX/ MARIA LETÍCIA RAUEN VIANNA
9º
M-LEARNING E U-LEARNING/ PEARSON EDUCATION DO BRASIL LTDA./AMAROLINDA SACCOL, ELIANE SCHLEMMER E JORGE BARBOSA
10º
PESQUISA-ENSINO: A COMUNICAÇÃO ESCOLAR NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR/
PAULINAS/ HELOISA DUPAS PENTEADO,ELSA GARRIDO (ORG)
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Clarice Lispector
Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.
domingo, 25 de setembro de 2011
RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL
Terezinha Saraiva 12/8/200
Folha Dirigida - 7/8/2008
Tenho muito interesse em conhecer, estudar e escrever sobre pesquisas realizadas. Hoje, vou abordar as informações levantadas pela pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" realizada por encomenda do Instituto Pró-Livro, criado em 2006, por entidades do mercado editorial. Embora seu maior objetivo tenha sido, certamente, levantar dados para orientar as Editoras, em relação à organização de seus catálogos, para conhecer seu público consumidor em potencial, a pesquisa trouxe um alerta para as escolas, para os professores, para as famílias. Os dados coletados confirmam o que outras pesquisas já haviam revelado: as mulheres lêem mais livros do que os homens, principalmente quando se trata de livro de ficção. A exceção fica com os livros referentes a história, política e ciências sociais. Das pessoas entrevistadas, que se identificaram como leitores, 17% dos homens disseram ler romance. Entre as mulheres que responderam, a taxa chegou a 41%.
No ano passado, um levantamento encomendado pela Associated Press, nos Estados Unidos, constatou que as mulheres liam, em média, nove livros por ano, enquanto os homens liam cinco. No clássico "A ascensão do romance", publicado no Brasil, pela Companhia das Letras, o crítico e historiador Ian Walt mostra que, já no século XVIII, os leitores de romance eram, em sua maioria, mulheres. O coordenador da pesquisa "Retratos da Leitura, no Brasil", Galeno Amorim diz que "as diferenças entre homens e mulheres não estão, apenas, nas taxas de leitura, mas também nos usos que eles fazem dos livros." Segundo ele, a pesquisa evidencia que a mulher aprecia e dá mais valor à leitura do que o homem, por estar aberta para a leitura pelo prazer, enquanto o homem faz uma leitura mais pragmática.
A pesquisa revelou, também, que a mãe é a pessoa mais importante na formação do hábito de leitura. Ela antecede à escola, que ficou em segundo lugar. O pai vem em terceiro lugar. Esse dado leva a uma reflexão: a que classe pertenciam os leitores que responderam à pesquisa Certamente, às classes A, B e C, já que as pessoas dos grupos menos favorecidos, sob o aspecto financeiro, não dispõem de recursos para adquirir livros, e a maioria não dispõe de tempo para ler, já que está envolvida em uma dupla jornada de trabalho - a que realiza fora de casa e a doméstica. Assim, avulta a responsabilidade da escola como formadora do hábito da leitura, extremamente importante na escolaridade de nossas crianças, adolescentes e jovens, para a melhoria da qualidade da aprendizagem, para a aquisição de informações que são transformadas em conhecimento. A leitura tem importância para a expressão verbal, para escrever bem. Só escreve bem quem lê. Só entende o enunciado de problemas, quem sabe interpretar o que lê. Na falta de pai e mãe que despertem nos seus filhos o encanto, o prazer, o amor pela leitura, compete à escola e aos professores incluírem em sua prática docente, tempo destinado à leitura, para formar o hábito de ler. Essa aprendizagem começa na pré-escola, por meio de várias atividades. É preciso que, desde cedo, as crianças manuseiem livros, contem histórias a partir de suas gravuras. Após a alfabetização, as crianças precisam ter na escola, diariamente, o encontro com o livro, com a leitura. Sabemos, entretanto, que hoje isto não vem ocorrendo na maioria de nossas escolas. Poucas têm bibliotecas; muitas das que existem permanecem fechadas. Não são utilizadas nem por professores, nem pelos alunos. Turmas superlotadas, jornada de aula pequena, professores que não são leitores são alguns dos fatores que fazem com que a leitura não seja uma atividade praticada com a freqüência necessária, nas escolas de nossos dias. Mesmo que as escolas não possuam biblioteca, as salas de aula podem ter um "cantinho de leitura" para permitir que os alunos tenham contato diário com livros, jornais, revistas, revistas em quadrinhos, manuais, receitas de comida, bulas de remédio, e tantos outros materiais e, assim, nossas crianças vão-se tornando leitores, vão descobrindo o mundo por meio da leitura. O hábito da leitura, além do prazer que proporciona, amplia os horizontes e permite um melhor desempenho escolar, perpetuando-se por toda a vida. É preciso que a escola e os professores voltem a dar a importância e o espaço para a leitura, como faziam as escolas de ontem, formando desde cedo o hábito e o prazer de ler, enriquecendo o vocabulário de seus alunos, sobretudo porque, nos dias de hoje, as mães de nossas crianças estão envolvidas no trabalho fora de suas casas, não dispondo de tempo para formar em seus filhos o hábito de ler, sem falar das que, além de falta de tempo, não têm recursos financeiros para adquirir livros, jornais, revistas, para leitura delas próprias, nem de seus filhos. É preciso formar em nossas crianças e adolescentes o hábito da leitura que, além de prazeroso, educativo, cultural, os auxilia para terem um melhor desempenho escolar, além do encanto que a leitura proporciona às nossas vidas.
sábado, 24 de setembro de 2011
HILDA HIST
CANTARES DO SEM-NOME E DE PARTIDAS.
I
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
II
E só me veja
No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias.
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).
Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.
E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.
III
Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isto? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.
VII
Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.
VIII
Aquela que não te pertence por mais queira
(Porque ser pertencente
É entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não te pertence não tem corpo.
Porque corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea.
Pertencente é não ter rosto. É ser amante
De um Outro que nem nome tem. Não é Deus nem Satã.
Não tem ilharga ou osso. Fende sem ofender.
É vida e ferida ao mesmo tempo, “ESSE”
Que bem me sabe inteira pertencida.
IX
Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondando a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós do tempo vão triturando
Tua esmaltada garganta... Mas assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.
Site Oficial
http://www.hildahilst.com.br
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Romeu e Julieta
Shakespeare escreveu a tragédia Romeu e Julieta que tem o mais alto percentual de rimas dentre seus poemas, assim, teve uma solução notável para o primeiro encontro dos dois jovens: as primeiras quatorze linhas do diálogo entre eles formam um soneto.
Romeu
Se a minha mão profana esse sacrário,
Pagarei docemente o meu pecado;
Meu lábio, peregrino temerário,
O espiará num beijo delicado.
Julieta
Bom peregrino, a mão que acusas tanto
Revela-me um respeito delicado;
Juntas, a mão do fiel e a mão do santo,
Palma com palma terão se beijado
Romeu
Os santos não têm lábios, mãos, sentidos?
Julieta
Ai, têm lábios somente para a reza.
Romeu
Fiquem os lábios, como as mãos, unidos;
Rezem também, que a fé não os despreza.
Julieta
Imóveis, eles ouvem os que choram.
Romeu
Santa, que eu colha o que os meus ais imploram.
Fonte: Heliodora, Bárbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Pespectiva, 1997.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
242 Livros para baixar
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